Congregação dos Sagrados Estigmas De nosso senhor Jesus CristoPresente no Brasil desde 1910
Província Sta. Cruz

EPIFANIA DO SENHOR

EPIFANIA DO SENHOR

*Por, Pe. Elizio Anunciação Filho, CSS

Todos os anos, iniciamos o Ciclo do Natal, abrindo um novo ano litúrgico e, com ele, a vivência de um tempo para a manifestação do Senhor e por isso, tempo para o nosso crescimento na fé. O ciclo do Natal começa com o Tempo do Advento, que nos introduz na expectativa da dupla vinda do Messias. E após essa preparação, culminamos na solenidade do Natal do Senhor, celebrando a manifestação da glória de Deus em Cristo e os inícios da nossa redenção. No prolongamento do Ciclo e encerrando-o, portanto, a Solenidade da Epifania tem o seu lugar privilegiado. Nela celebramos a manifestação do Filho de Deus a todos os povos e o encontro salvífico destes com o seu Senhor e Salvador.

Conforme São Leão Magno, o único objeto da Epifania é a adoração dos Magos, nos quais é contemplado “o início do chamado à fé de todos os povos”. Assim, a liturgia conserva a vinda dos Magos como tema presente, sobretudo nos textos da celebração eucarística. As leituras, por exemplo, dão destaque à experiência de Deus que os povos são chamados a fazer: o profeta Isaías realça poeticamente o esplendor do povo de Deus – A Igreja, na releitura cristã – cujo brilho não provém de outro lugar senão da glória de Deus; a segunda leitura de Efésios ressalta o crescimento do povo de Deus com a participação dos pagãos, que “são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho” (Ef 3,6).

Nos textos bíblicos e nas orações litúrgicas, torna-se evidente a presença de um grande símbolo: a Luz, elemento fundamental na liturgia natalina e enfocada particularmente nesta solenidade como nos diz o prefácio: “Revelastes, hoje, o mistério de vosso Filho como luz para iluminar todos os povos no caminho da salvação”. Isso nos ajuda a refletir em sentido Cristológico o clássico texto de Isaías: “os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua glória” (Is 60). No Evangelho, onde os Magos, guiados pela estrela – símbolo messiânico – buscam o Menino, notamos a presença dessa luz cósmica que aponta para a Luz que não conhece ocaso, neste sentido, entendemos a finalidade primeira da natureza que é conduzir ao Criador, pois nela O contemplamos por analogia (Cf Sb 13,5).

Na caminhada dos Magos à procura do Menino “nós contemplamos o homem de todos os tempos que procura por Deus na peregrinação da própria vida, e o homem que encontra Deus, tendo-o procurado” (Matias Augé). E aí está a Estrela de primeira grandeza, “essa estrela vence o sol em fulgor e em beleza, e nos diz ter vindo à terra Deus, em nossa natureza” (Liturgia da Horas). Assim “os magos veem claramente, envolvido em panos, aquele que há muito tempo procuravam de modo obscuro nos astros” (São Pedro Crisólogo).

A espiritualidade epifânica celebra a manifestação de Deus no meio dos homens e o encontro destes com o seu Salvador: “Todas as nações que criaste virão adorar-vos e glorificar o vosso nome, ó Senhor!” (Sl 85,9). É um ato de fé, pois a riqueza de Deus que nos enche de dons se torna um convite, na Epifania, a renovar nossa disposição naquele que se revela como nosso Salvador. As orações da Santa Missa aludem para essa experiência renovadora ao afirmar que já “conhecemos pela fé” o Filho de Deus e mais adiante, a oração conduz a inteligência a “acolher com fé” o grande mistério celebrado. No texto de São Leão Magno, no Ofício das Leituras para este dia, nos diz que a Epifania celebra “o primeiro chamado dos povos pagãos à fé” e prosseguindo, acrescenta: que “tudo isto se realizou quando os três magos, chamados de seu longínquo país, foram conduzidos por uma estrela, para irem conhecer e adorar o Rei do céu e da terra” e nos presentes entregues, testemunhar aquilo que acreditavam com o coração.

A Epifania é, assim, um convite a fazermos o caminho dos Magos. Enfrentar as noites escuras da vida e da alma, os desejos e as dúvidas, as esperanças e as incertezas. Enfrentar com serenidade o desinteresse dos “escribas e sacerdotes” e a maldade dos “Herodes” do tempo presente que ocultam e matam as verdadeiras intenções humanas. É preciso, pois, tomar o caminho dos Magos e deixar-se possuir por um coração inquieto pela verdade e pelo amor que só se realizará naquele encontro último da alegre adoração, que é a entrega do dom de si mesmo. “Só assim nascemos Nele e Ele em nós”.