Congregação dos Sagrados Estigmas De nosso senhor Jesus CristoPresente no Brasil desde 1910
Província Sta. Cruz

INDICÇÃO DO ANO BICENTENÁRIO

INDICÇÃO DO ANO BICENTENÁRIO

 

INDICÇÃO DO ANO BICENTENÁRIO

DA CONGREGAÇÃO DOS SAGRADOS ESTIGMAS DE N. S. J. C.

 

Aos confrades Estigmatinos

À Família Bertoniana dos Leigos

Aos amigos colaboradores

 

Caríssimos,

no próximo dia 04 de novembro tem o início o Ano de preparação ao Bicentenário do nascimento da nossa Congregação.

É para todos nós ocasião de agradecimento a Deus, recordando – isto é, trazendo ao coração – o momento em que S. Gaspar e os seus primeiros companheiros, obedecendo à vontade de Deus que se manifesta nos fatos, começaram juntos a construção de uma nova comunidade religiosa.

 

 I – Olhar o passado: “Bendirei ao Senhor em todo tempo”

Não será um ano para recordações de vanglórias passadas, mas muito mais um tempo para contemplar o que a bondade de Deus nos permitiu realizar a serviço da Igreja. É retornar às raízes da nossa história para cantar hinos de louvor e agradecer ao Pai que nos abençoou. É a ocasião para nos reconhecer parte viva de uma Família viva, que produziu e ainda produz no mundo frutos de caridade. É o momento de agradecer pelos confrades santos que nos precederam, pelas figuras de missionários apostólicos que com tenacidade semearam a Palavra na Itália, na Europa, no Brasil, entre os migrantes dos Estados Unidos; missionários que reforçaram a fé dos pequenos grupos cristãos na China e ali colocaram os fundamentos para robustas comunidades, aceitando privações e perseguições pelo Seu nome; missionários que “foram a todos os lugares” (quocumque euntes) – como nos exorta S. Gaspar – na Tailândia, África, Filipinas, Chile, Paraguai, Geórgia, Índia.... Diante de Deus, é bom recordar os nossos confrades fundadores de obras de caridade para os mais pobres, fundadores de novas congregações de religiosas, desconhecidos ou famosos, testemunhas silenciosas ou pregadores eloquentes, irmãos coadjutores exemplares, bispos... confrades que subiram o Calvário do sofrimento e da enfermidade, por anos, com o espírito de santo abandono; professores e educadores de gerações de jovens, animadores de 2 Oratórios, diretores espirituais, literatos, compositores de música ... Realmente temos muito para agradecer!

Ora, queremos voltar às nossas nascentes, lá onde o nosso pequeno rio começou a pequenas gotas. No mês de maio de 1841, S. Gaspar escreveu a P. Luís Bragato, estigmatino enviado à Corte imperial de Viena-Praga, uma carta que é muito preciosa para nós. Nela, S. Gaspar manifesta o espírito com o qual estava escrevendo as Constituições para os seus filhos, isto é, para nós (uma tarefa que o absorverá na oração, no estudo e no conselho por volta de dez anos). Escreve palavras que exprimem serenidade e certeza de fé: o Senhor levará adiante a Sua obra da melhor maneira, para a sua glória. Surpreende a tranquilidade, a falta de preocupação em relação ao futuro e ao desenvolvimento da Congregação. Eis o texto:

 «Rezai muito por todos nós e pelo que estou escrevendo em pequenas gotas, se o Senhor assim o quiser, e que seja para a sua glória. Nós fazemos da nossa parte, segundo as graças que Deus nos dá; Deus certamente fará a parte dele, e eu nem quero saber o que Ele quer fazer. Apenas me tranquilizo crendo firmemente que Deus pode fazer qualquer coisa que deseja e fará sempre o melhor, ainda que muito além do nosso pequeno ponto de vista, e às vezes até mesmo o contrário. “Bendirei o Senhor em todo o tempo, em minha boca sempre o seu louvor”» (Sal 34,2).

Com certeza, ele conservava no seu coração todos os acontecimentos do passado e os ligava como as peças de um mosaico: as inspirações, as experiências pastorais que o Senhor tinha lhe pedido através das pessoas, os oratórios marianos, o círculo dos jovens sacerdotes, a assistência espiritual às companheiras de Madalena de Canossa e de Leopoldina Naudet, dos estudantes no seminário; sobretudo a frutuosa missão de São Firmo Maior e o dom da casa e da igrejinha dos Estigmas “como lugar oportuno para se colocar uma Congregação de Padres que vivam sob as regras de S. Inácio”. Assim como o decreto de “Missionário Apostólico” que lhe foi conferido pela Santa Sé. Por 25 anos tinha vivido a experiência comunitária com os seus companheiros, crescendo e caminhando juntos, exortando-se reciprocamente a seguir com generosidade a Cristo casto, pobre, obediente, rezando junto, preparando-se juntos para o anúncio penetrante da Palavra de Deus em toda a cidade de Verona.

“… e eu nem quero saber o que Deus quer fazer”.

Do ponto de vista humano, o que acontece com ele e os seus companheiros nos anos sucessivos poderia ter levado qualquer um ao desconforto e ao desencorajamento. Assim escreve Pe. G. Stofella: “ O Ven. Gaspar durante este trabalho de elaboração das Constituições, viu a sua comunidade dissolver-se a olhos vistos e a reduzir-se aos extremos. Dos dois clérigos, um morreu. Dos onze sacerdotes, morreram três; dois, os mais titulados, voltaram para as suas casas. Por um bom tempo, de clérigos ou padres ninguém entra para os Estigmas. Deserções várias de irmãos coadjutores: dois irmãos de sangue que morrem 3 depois de terem servido ao Senhor, respectivamente por 13 e por 8 anos; outros entram e saem. Um só novo irmão entra e persevera. Doenças, tribulações, tempestades” (Il Ven Gaspare Bertoni, p. 248). Enfim, foi um parto difícil e doloroso, o nosso. Mas ele repetia, e hoje podemos repetir também nós: “Deus pode fazer todas as coisas... Bendirei o Senhor em todo tempo…”.

São Gaspar, em um momento delicado da comunidade de Naudet, enviou-lhe uma mensagem que serve para nós, ainda hoje: «Mas, um pouco pra cima, um pouco pra baixo: uma estrada direta, uma meio torta, deve-se continuar adiante nos passos d’Aquele que nos precede com a sua cruz nas costas, e continuamente grita: Quem quer vir depois de mim, negue-se a si mesmo, tome aos braços a sua cruz, e me siga » (Mt 16,24; Lettera 144).

II – Viver o presente: “Nós fazemos a nossa parte, com a graça de Deus”

Este ano de preparação ao Bicentenário será também ocasião para verificar a nossa fidelidade dinâmica, histórica, ao “projeto” de Deus e para medir a “temperatura” atual do nosso zelo missionário. Um ano para colocar nas mãos do Senhor, até mesmo os nossos pecados, a lentidão, as falhas e medos, fraquezas pessoais e comunitárias.

Providencialmente, a celebração deste ano, enquanto calendário, coincide na prática com o Jubileu extraordinário da Misericórdia, convocado pelo Papa Francisco e isto confere um tom particular à nossa comemoração e nos convida a ler a nossa história como caminho da misericórdia que Deus está fazendo com a nossa Congregação.

Li, com comoção, a intenção que o Papa anunciou para a Quaresma do Ano Santo: “enviar os Missionários da Misericórdia, sinal da solicitude materna da Igreja pelo povo de Deus, para que entre profundamente na riqueza deste mistério tão fundamental para a fé... Serão sobretudo sinal vivo de como o Pai acolhe a todos aqueles que andam à procura do seu perdão. Serão missionários da misericórdia, porque se farão, junto de todos, artífices dum encontro cheio de humanidade, fonte de libertação, rico de responsabilidade para superar os obstáculos e retomar a vida nova do Batismo... Organizem-se, nas dioceses, “missões populares” de modo que estes Missionários sejam anunciadores da alegria do perdão (Misericordiae Vultus n. 18).

É verdade que estes Missionários serão escolhidos e mandados pelo Papa Francisco, mas como não perceber uma estreita analogia com os “Missionários Apostólicos, em auxílio aos bispos” que o nosso Fundador colocou como finalidade da Congregação? São Gaspar nos via como Missionários Apostólicos de fato e no zelo – ainda que sem o título da Santa Sé – mandados pelos bispos a fazer com que cada um dos batizados redescubra a beleza do Batismo que nos leva à comunhão íntima de vida com Cristo na Igreja, através da Eucaristia. São Gaspar nos quer MISSIONÁRIOS livres e desimpedidos para ir ‘na diocese e no mundo’, com a força da Palavra contemplada.

Caríssimos Confrades, ao recordar o dever dos Missionários Apostólicos, no que diz respeito à evangelização, com os vários e próprios ministérios da nossa vocação, deixem-me 4 enfatizar a importância do ministério do sacramento da Reconciliação, considerado como um caminho que leva a pessoa a um propósito firme de conversão para começar uma vida nova. A “Confissão” é uma poderosa forma do anúncio evangélico, que vai diretamente ao coração do indivíduo. O Fundador formou uma geração de “novos confessores” e fala disso muito frequentemente nas Constituições (CF 38; 72-75; 162; 293; 277), colocando-a entre os ministérios especiais dos “Professos solenes” (CF 183: “Acolher as confissões de todos, especialmente dos pobres, das crianças e levá-los à uma devida frequência aos sacramentos”). Se a Igreja é um “hospital de campo”, que o povo de Deus encontre entre nós enfermeiros e doutores bem preparados e disponíveis para curar as feridas, em qualquer momento.

Caríssimos leigos da Família Bertoniana e amigos colaboradores. O anúncio da Misericórdia do Pai é confiado também a vocês. Nas suas famílias, em seus lugares de trabalho, nos vários compromissos que lhes são pedidos pela comunidade cristã, nas conversas familiares que vocês mantêm com as pessoas, no bar... em qualquer lugar, sintamse enviados, “em saída”. Constantemente, vocês podem estar lá onde os padres não podem entrar. Vocês têm sempre uma palavra mais simples e incisiva, porque aprenderam na vida cotidiana. Um cristão, se não é missionário, não é cristão. A experiência que fazemos da ternura de Deus, torne-se um testemunho concreto nas obras de misericórdia, de justiça, de libertação e de cura.

 III – Para construir o futuro: “Deus certamente fará a sua parte”

Soa para nós como um estímulo de energia o que São Gaspar deixou nas Constituições: “Aquele que inspirou e iniciou o projeto, ele mesmo o levará à conclusão (cfr Fil 1,6), se não conseguirmos levá-lo adiante com as nossas forças” (CF 185).

É este o fundamento da nossa esperança. A nós o dever de olhar atentamente as mãos do Senhor (cfr Sal 123,2) e estar prontos para fazer tudo aquilo que Ele nos dirá. As grandes mudanças históricas em curso nos encontrem na escuta do que diz o Espírito às igrejas, para não sermos ultrapassados pela história. "Os tempos mudam e nós, os cristãos, devemos mudar continuamente!" (Papa Francisco, Homilia Casa S. Marta, 23 outubro 2015)

Já estão programadas algumas iniciativas para acontecerem neste ano de preparação ao Bicentenário e outras estão sendo preparadas. Citamos algumas brevemente:

1) Primeira Semana Internacional Estigmatina, aberta aos confrades do mundo inteiro (Verona, abril ou maio 2016).

2) Jornada Mundial da Juventude 2016: precedida por uma Semana da Juventude Estigmatina organizada pela Província do Sagrado Coração (Verona, 16 -25 julho 2016). Na mesma ocasião celebrar-se-á o Festival da música bertoniana. O tema das novas canções será: “Tempos difíceis, mas os mais oportunos”; o slogan: “Unidos pelo mesmo sentimento, motivados pela fé”.

3) Experiência Comunitária Internacional Estigmatina, reservada aos jovens sacerdotes: 12 junho 2016 – fevereiro 2017

4) Segunda Semana Internacional Estigmatina, aberta sempre a todos os Confrades (Verona, fim de outubro - início de novembro 2016)

5) Peregrinação - Encontro dos Leigos da Família Bertoniana por alguns dias, em data a ser definida.

6) Livros - publicações:

a) Biografia de divulgação de S. Gaspar Bertoni (Ed. Velar - LDC)

b) Biografia histórica de S. Gaspar Bertoni, autoria do professor Ruggero Simonato

c) Uma história pra não ser esquecida, de Padre Michele Curto, estigmatino (história da Congregação de 1853 a 1953).

Cada província é convidada a pensar e realizar outras iniciativas úteis para conhecer e fazer conhecer a nossa história (retiros comunitários, congressos, artigos em jornais e revista, vídeo clip, folders, etc. ) e fazer com que estas iniciativas sejam comunicadas a todos.

Conclusão

O Capítulo Geral afirmou: “Consideramos urgente redescobrir a nossa história, seja no que tange o nosso Fundador e os seus escritos, seja no que tange a vida da Congregação.

Aprofundar e conhecer a nossa história nos faz ver o percurso feito por aqueles que nos precederam até hoje nas várias épocas e nações, e nos dá indicações para sermos fiéis no projetar o nosso presente e o futuro. Figuras significativas pela santidade de vida e pelo zelo, criatividade e inteligência são um tesouro que não podemos perder e que devemos torná-los conhecidos com simplicidade e orgulho. Neste sentido, somos convidados a ter uma maior atenção com a nossa memória histórica, não deixando cair no esquecimento o que o Senhor nos permite realizar, comunicando notícias a todos os confrades e esforçando-nos em manter atualizadas as Crônicas de cada comunidade. (Doc. Progr. n.2)

Os Santos Esposos, o nosso Santo Fundador e todos os confrades que nos precederam nos ajudem no caminho da renovação. E parabéns para todos! No Senhor, com reconhecimento,

 

Pe. Maurizio Baldessari

e Conselho Geral Roma,

26 outubro 2015